João Paulo e as mudanças no mundo global

Seria interessante se pudessemos pensar o caso local de João Paulo, articulando-o com o momento da política global. Vivemos um momento  – da crise europeia à primavera árabe – de redifinição dos canais de mediação política . Parece que estamos chegando a um estágio de esgotamento do atual modelo de representação política. No Brasil, esse momento está chegando, sem talvez atingir por ora a mesma força que teve em outros lugares. Talvez seja na cidade do Recife onde podemos ver com mais nitidez essa dinâmica, em decorrência de um intenso sentimento coletivo de desamparo diante do desgoverno de João da Costa.  Desacreditadas com a política institucional, as pessoas estão se organizando para mostrar o seu descontentamento de várias maneiras. A vontade de falar mal do prefeito João da Costa é hoje o grande dínamo da socialização recifense.
Mas as pessoas não estão interessadas em saber do partido do prefeito, pois a maioria absoluta dos recifenses ainda votaria em João Paulo, independente do partido em que estivesse. Ora, ainda que se mantivesse no PT,  o mesmo partido do impopularíssimo João da Costa, João Paulo ganharia a eleição de 2012. Em certo sentido, a população sabe que os partidos hoje em dia não passam de facções cartoriais manipuladas pelos interesses das oligarquias. E o que são hoje certas alas do PT senão neo-oligarquias? O drama de João Paulo é que ele foi educado politicamente numa tradição de esquerda que entendia o partido como setor de vanguarda da sociedade, que munido de disciplina revolucionária e organicidade ideológica, atingiria os seus objetivos. O mundo é outro, a esquerda é outra, e são os próprios petistas de Pernambuco que transformaram o partido naquilo que ele é hoje: um lugar sem nenhuma organicidade ideológica e cheio de interesses particulares. Como João da Costa pode ter feito uma administração com prioridades sociais e políticas tão diferentes daquelas de João Paulo, sendo os dois do mesmo partido? Isso mostra a falta de organicidade do partido, sem dúvida.
 É importante enfatizar o novo momento da história global em que estamos vivendo, no qual certos rótulos já não dizem tantas coisas, e os partidos parecem se apequenar diante do papel que teriam que desempenhar diante do mundo complexo em que vivemos. Não se trata de dizer que esquerda e direita não existem. Não é isso. Mas de dizer que nem sempre um partido “teoricamente” de esquerda, e “teoricamente” popular, vai ser um partido cuja gestão vai se pautar por práticas de fato populares e de esquerda. João Paulo pode abraçar uma ideia de partido já ultrapassada e se achar pertencente a um projeto “nacional”, ou pode de fato usar o grande descontentamento diante da política e a mobilização social que há hoje em dia em torno desse descontentamento para reafirmar um projeto popular e de esquerda – que marcou sua gestão – ainda que fora do partido que tradicionalmente empunhava tais ideias como bandeira.
Temos tempos interessantes à nossa frente.
PS. se você veio até aqui pela repercussão na mídia, seja bem vindo, mas discuta os argumentos. Agressões pessoais e assuntos fora de pauta não são bem vindos.

8 pensamentos sobre “João Paulo e as mudanças no mundo global

  1. Estudou na França, formado em sociologia, será que você lembrar de quando seu pai andava pelas portas das fabricas jogando os trabalhadores contra os patrôes? Muitos trabalhadores perderam seus empregos, passaram por dificuldades e, só quem levou vantagem foi seu pai e você, muitos daqueles trabalhadores hoje estão esquecidos. Conheci um cidadão aqui no municipio do Cabo de Santo Agostinho que, seu pai vinha pega-lo em casa pra fazer piquete nos portões das fabricas. Esse cidadão tambem foi esquecido. Seu pai com aquele ar de moço bom mas egocentrico. É, meu caro até agora seu pai não disse a que veio no parlamento, estou decpcionado!

  2. Bem, caro Neheminas Fernandes Jaques, o que vejo da relação do meu pai com os antigos companheiros de fábrica é uma relação de respeito e admiração. Agora se você está perguntando se eu me lembro dessas coisas para invalidar minhas opiniões políticas porque tive privilégios dada a condição de vida alcançada pela trajetória política do meu pai, talvez seja melhor ser mais explícito porque não vejo relação entre as duas coisas. Se quiser saber mais sobre minhas lembranças egocentricas, aconselho ler mais desse blog. Em suma, vejo que atribue responsabilidade à vantagem de minha formação (teria eu, filho de ex-operário, algum mérito?). Desculpo sua decepção resignada. Mas a minha culpa narcisica e de classe, não é questão política.

  3. J.P. Filho, no ano de 2000 eu e uns amigos levamos o então candidato João Paulo à sede do Jornal do Commercio para entrevista com os internautas. Foi um sucesso. Mais de 5 mil pessoas passaram pela sala #Recife. Estávamos todos esperançosos de que João Paulo vencesse as eleições. Foi uma alegria muito grande ter visto uma pessoa comum (e ainda hoje ele é uma pessoa comum) capitanear a Prefeitura do Recife, palácio que abrigou diversas pessoas eruditas.

    Eu não irei comentar essa questão direita e esquerda. Não nego que exista, o difícil é dizer o que é direita e o que é esquerda em governos cada vez mais pragmáticos e menos ideológicos. Ideologia e pragmatismo podem andar juntos. Mas quem quiser refletir sobre direita e esquerda, que procure a literatura de Bobbio, Pzeworski e Riker.

    Na minha análise, João Paulo era filiado a uma ala enfraquecida do PT. Ao se candidatar, ninguém acreditava que ele fosse vencer. O próprio Humberto Costa disputou a vereança (o mais votado da história até hoje). Uma vez que JP conseguiu a prefeitura, as disputas internas pelo poder dentro do PT começaram a se acirrar. JP disputou a reeleição legitimamente mas a sucessão abriria novamente o debate interno. JP não cedeu e conseguiu manter a hegemonia de seu grupo político indicando o Secretário João da Costa (eleito deputado estadual com total empenho de JP). Com a derrota de Humberto Costa para o governo do Estado, essa pressão sobre JP passou a ser ainda maior! O grupo de Humberto queria a PCR e JP não estava disposto a fazê-lo.

    Eduardo Campos tem uma aliança forte com PT, PTB e PDT. Logo, nenhum desses partidos irá abrigar JP para disputar a PCR em 2012. PSDB e Democratas é impossível. Restam PCdoB e PMDB.

    No PCdoB João Paulo teria o Deputado Luciano Siqueira ao seu lado, faria uma campanha popular, porém de partido único. Para piorar, o partido poderia perder Olinda com o PT lançando candidato próprio. E isso não seria impossível, pois a gestão de Renildo não tem uma boa avaliação.

    No PMDB, João Paulo não ficaria politicamente descaracterizado pelo fato de o partido estar na Vice-presidência e ser aliado do PT no plano nacional (e o argumento da nacionalização das alianças seria interessante). Mas o problema seria convencer o PSDB, o Democratas e o PPS a não lançarem candidato próprio, aumentando as chances de eleição de JP. E, após eleito, JP não estaria tão livre para implementar uma gestão nos moldes da anterior devido ao apoio de partidos tão diferentes de sua visão política.

    Logo, só resta a João Paulo continuar em Brasília, o que é uma perda enorme para o Recife. Hoje não há candidato à altura dos problemas que a cidade enfrenta.

    • Bela leitura de cenário, Leon Victor. Eu só tenho um adendo a fazer: a saída de João Paulo do PT que eu defendo não pode nem deve estar atrelada à volta para PCR. Nem só de eleição vive um político de projeto. Eu acredito nisso e por isso fiz minha leitura baseado na ideia segundo a qual um projeto político partidário mais à esquerda se perdeu, de um lado porque quiseram dar nova cara ao projeto que vinha dando certo, de outro por conta dessas tensões internas que você bem descreveu. Julgo uma pena o apelo popular (não sou eu quem diz, está nas pesquisas) não tenha mais tanta relevância numa política por demais dominada por políticos burocratas, cartoriais. Mas essa política tem dado sinais, mais fora do que aqui, é verdade, de que sua falência não vai tardar. É acompanhar as cenas dos próximos capítulos. E você tem muita razão ao dizer: hoje não há candidatos à altura dos problemas que a cidade enfrenta. Onde passo, ouço comentários parecidos. Há até um certo clamor de volta João Paulo. Bem, vamos ver como as coisas se passam. Obrigado pelos comentários.

  4. o PT era bom pra João Paulo no tempo que a miltância petista ia às ruas pedir voto para ele.Agora, não presta mais.Se JP sair do PT vai perder um voto certo.Não voto em candidato, voto em partido.A causa maior da corrupção no Brasil é a falta de partido forte.Neste país, lamentavelmente, a pessoa elege um governador de um partido e num deputado estadual de outro.Como é que o partido do governador eleito vai aprovar matérias com voto da oposição radical?A mesma coisa vale para o Poder Executivo Federal e Municipal.Mais:esses políticos que troca de partido apenas por questão pessoal, de ego têm que ter vergonha na cara.

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