"Entrevista" com Gilmar Mendes Links

Para quem vai acompanhar a “entrevista”de Gilmar Mendes no Roda Morta na TV Cultura hoje à noite a sugestão é antes ler o post do Idelber, passar pelo do B J, e depois, se tiver uma pergunta a acrescentar, fazê-la ao próprio Gilmar Mendes, aqui. Façamos, se a estrutura do programa permitir, o papel que os jornalistas escolhidos dificilmente farão. Vamos lá. Vale a pena tentar.

Teste da foto: memória presente de algumas veredas

Hoje encontrei por acaso com alguém inesperado. Luciana, talvez minha primeira namorada. Não lembro nem se a beijei um dia. De recordação presa na memória, mesmo, só ficou aquela imagem da casa dela, na frente de uma praça que era um pouco distante da minha, na UR-6.

Encontrá-la e ver esta foto aqui hoje me deixou reflexivo…

Já tentei lembrar o que diabos estavamos vendo nesse dia. Mas desisti. Acho até que Diogo já me lembrou uma vez, mas minha memória é por demais seletiva. Já apaguei da minha a recordação dele. Talvez alguém falando sobre marxismo, ou sobre a sociologia pós-estruturalista, ou sobre alguma bobagem dessa que se vê num auditório cheio de estudantes de graduação em ciências sociais. Mas nada disso importa, mesmo.

Na foto temos, dos que mais convivi, da direita para esquerda (a ordem é quase sempre importante): Dosta, Frávio, Cesar, Jampa e Diogo. Logo atrás, Cunegundes e mestre Giva… Acho que Simone está à esqueda, mais ao fundo, sempre de preto. E penso reconhecer Adriana ainda mais atrás , mas não tenho certeza alguma.

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Cada um com seu cada um, dizia um amigo da UR-6. Ele repetia essa frase em alguns tipos de situação. Um amigo te traiu, “cada um faz o seu. Cada um com seu cada um. Não é assim não?” Eu achava incrível aquela franqueza individualista. Era uma coisa tupiniquim, violenta. Não confie em ninguém. Seja auto-suficiente, assim você sobrevive melhor. Ainda hoje acho isso raro. Não sei bem a razão, mas essa frase me ficou e acho que individualismo é isso: “cada um com seu cada um” E depois, para piorar, tendo a pensar que essa maneira de ver sempre acompanha um certo naturalismo conservador “não é assim não?”. O individualismo, para mim, é fruto do medo naturalizado do outro.

Hoje percebo que aquela maneira de falar de meu amigo da UR-6 era um código. Decifro-o agora: para o pior, que ocorre tão freqüentemente, é sempre bom estar preparado. Cada um com seu cada um é uma vacina que prepara o espirito para a virose chamada mundo. Uma vacina que parecia proteger contra a certeza de um futuro incerto, sem perspectivas onde quem vence é sempre um traidor. Lugar hobbesiano, onde em todos os momentos se vivencia a luta do bem contra o mal, onde uns são bons e outros são maus. Um universo sem muitas palavras “não é assim não é ?”

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A foto do post traz um mundo sobreposto a esse, espaço onde encontrei as palavras para falar sobre o silêncio que aquele outro sem foto evoca. Uma descrição do meu visual semi-punk, pós-nietzschiano, peseudo-filosófico, pode, com o esforço amigo do leitor, denunciar a tensão existente entre invisíveis co-existindo alí. Em mim, naquela cabeça raspada com uma mecha de cabelo correndo até a orelha esquerda, os dois mundos se digladiavam. E o look debochado, nem totalmente marginal nem perto de ser convencional, era uma maneira de expressar toda a violência daquele momento de aprendizado.

Incorporar um vocabulário esquisito, formal, era também senão esquecer, imputar ao mundo silencioso, aquela nova maneira de falar e entender as coisas, inclusive do velho mundo, cheio de girias e palavrões vulgares que, naquele contexto, só queria calar.

A foto traz amigos que hoje mal ou bem, ou mal e bem, estão aí inseridos nesse mundão a fora. Professores universitários, pesquisadores, empregados de orgãos públicos, etc. Da UR-6 quase nunca tenho notícia. Luciana, a encontrei no parque da Jaqueira, ela tem uma pscina de bolas para crianças bricarem. Do meu amigo autor da frase que deliniou minha recusa institiva à filosofia complexa que enfatiza o individuo como base analítica da vida social (sociedade, such a impossible thing to think!), soube apenas que o irmão dele foi preso por traficar cigarros. Mas já se soltou e vive uma vida muito parecida com a minha, onde cada um faz o seu, não é assim não é?